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Maquiando em Pouso Alegre

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O que cada uma se permite

Outro dia ouvi de uma pessoa próxima um comentário sobre o batom arregalado de uma transeunte. Algo como "Será que ela acha que homem gosta disso?".

Meu radar de machismo pirou, claro.


(Batons Lime Crime)

Depois veio a triste depressão que sempre me abate ao ver que as pessoas realmente acreditam que os mínimos detalhes do comportamento feminino devem seguir as preferências masculinas. 

Mas desta vez aconteceu algo curioso: eu fiquei com dó. Pena, mesmo, de ver que ainda existem mulheres que vão se privar das delícias de deitar e rolar com as cores, as texturas, o seu espelho, a sua imagem... Fiquei com muita pena por eu mesma ter sido testemunha ocular de uma pessoa cuja autoimagem não lhe pertence, uma criatura que não consegue identificar-se, não é dona de si, mas escrava do que lhe dizem que ela é, ou do que deveria ser. 

Um padrão muito rígido, com um cabelo muito liso, uma pele virtual que apenas photoshop pode nos proporcionar (mas querem que você a consiga na vida real!), seios grandes (naturais, porque silicone fica artificial demais!), 20 kg a menos do que você tem (ainda que você pese apenas 20 kg...), esmalte clarinho, maquiagem natural - leia-se marrom  - (porque maquiagem pesada é coisa de mulher feia)...

Sem direito a cores, sem direito a brilho, sem direito a nenhuma expressão de individualidade ou exteriorização dos seus sentimentos e ideias. A transformação de ser humano, de mulher, em boneca inflável. O esquecimento dos seus desejos em nome da realização de desejos e exigências de outros. 

Claro, existem ocasiões em que desejamos ser sexy - e o somos propositalmente, nos arrumamos para agradar a um parceiro assim como esperamos que o parceiro nos agrade. Mas disso a viver em função do que o cidadão acha bonito, sexy ou legal... Ahhh vá! Como se cada uma fosse o bicho de estimação do namorado, marido ou pai!

Quando eu era mais nova achava que as questões do feminismo, do controle patriarcal e da misoginia eram uma coisa da época da queimada de sutiãs. Mas a cada dia que passa eu fico mais e mais estarrecida, e acabo me sentindo um E.T. por sentir que o mundo é tão medieval!

Sei que nem todas as mulheres são anarco-punks, nem todas gostam ou podem usar cores ousadas, tanto nas roupas como na maquiagem. Mas gostaria de deixar um recado para aquelas que têm vontade:


EXPERIMENTEM!

USEM!

DIVIRTAM-SE!

Tenham coragem e um pouco de paciência para encarar os ataques agressivos da Gestapo da imagem feminina, aquelas pessoas medonhas que acham um absuuurdo você querer abandonar seu papel decorativo no mundo e expressar a indivídua que você é.

Eu acho que nós somos o que nos permitimos ser. Você pode ser muito inteligente e decidir abandonar a faculdade para se casar e ter filhos, e então a maternidade e a vida no lar serão a sua escolha. Você também pode querer se formar primeiro e casar mais tarde, ou dedicar todo o seu tempo aos estudos e à carreira e nunca se casar, ou ser mãe solteira, ou ter filhos na adolescência e estudar depois. Acho que o que importa é se lembrar de que quem faz suas escolhas é você, e são elas que decidem sua vida. 
Quando eu me responsabilizo pela minha própria felicidade é que vejo o peso de fazer escolhas que sejam boas para mim também, independentemente das pessoas que as condenem. Porque, se eu não correr atrás dos meus interesses, quem irá? 

Enquanto eu fico aqui parada odiando meu corpo, meu cabelo, minha idade e todo o resto, perseguindo a aparência de boneca inflável e ganhando biscoitos caninos imaginários da sociedade por ser uma boa menina, outras pessoas se amam, vivem vidas incríveis com pessoas incríveis que as querem pelo que elas são - não por aquilo que deveriam ser ou que estão perto de ser. 

Portanto, vou aproveitar este episódio para me comprometer comigo mesma a me permitir viver mais a vida do meu jeito, do jeito que me faz bem e me faz feliz. Mais cores, mais glitter, chocolate, mais risada, menos perfeição. Essa é a minha receita. 

A partir de agora, começou o vale-tudo contra o ideal da boneca inflável. Podem dizer que ela é linda e perfeita, mas eu prefiro muuito mais a do batom lilás ali em cima. Ela é mais a minha cara.


E aí, alguém mais aceita o desafio assustador de se permitir um pouco mais na vida? :D
 

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